Continua: A FIDE Não Cede, Ilyumzhinov Não se Demite
Ao mesmo tempo que Kiran Ilyumzhinov em pessoa nega que vai deixar o seu cargo como Presidente da FIDE, os oficiais da FIDE continuam a afirmar que ele anunciou a sua demissão. Numa conferência de imprensa hoje em Moscovo, Ilyumzhinov realçou que ele irá continuar o seu trabalho como Presidente da FIDE até 2018.
Foto Ilyumzhinov: David Llada.
(Isto é uma continuação das notícias de ontem onde nós reportámos que o website da FIDE afirma que Kiran Ilyumzhinov anunciou a sua demissão de Presidente da FIDE.)
O desmentido escrito de Ilyumzhinov ("a informação sobre a minha alegada demissão publicada no website da FIDE é falsa") foi publicada hoje no website da FIDE, junto com uma resposta do director executivo da FIDE, Nigel Freeman.
Ele escreve:
Estimado Kirsan,
Durante a Reunião do Conselho Presidencial em Atenas, o Senhor ameaçou várias vezes que se demitiria e no final da reunião, três vezes você repetiu: "Eu demito-me" antes de sair da sala.
A pedido dos membros do conselho, uma reunião Extraordinária do Conselho Presidencial foi convocada para 10 de Abril para discutir este assunto.
Ilyumzhinov já respondeu a esta resposta. Numa carta mais longa, ele menciona que houve uma "discussão muito emocional" depois da reunião do Conselho Presidencial ter terminado. Ele esclarece também a sua declaração (de acordo com aquilo que o seu assistente Berik Balgabaev tinha dito ontem ao Chess.com).
Segundo Ilyumzhinov, ele disse em Atenas: "Eu estou pronto para deixar a posição de Presidente da FIDE se isto fôr necessário para a FIDE."
Ilyumzhinov também assinalou que o assunto deve ser resolvido na Assembleia Geral da FIDE, "que me deu o mandato até às próximas eleições que terão lugar em Setembro de 2018. Portanto, eu não vejo qualquer necessidade de uma reunião extraordinária do conselho em Abril."
Ilyumzhinov escreveu também uma carta para todas as federações nacionais de xadrez. Nesta ele declara também que tenciona trabalhar o período completo do seu mandato, e não vê razão para "desperdiçar dinheiro" para uma "reunião desnecessária."
Conferência de Imprensa
Hoje Ilyumzhinov também realizou uma conferência de imprensa no Central Chess Club em Moscovo. Ele foi acompanhado pelo que parece ser o único oficial da FIDE que ainda o apoia publicamente: o Presidente da Federação Russa de Xadrez e Vice-Presidente da FIDE Andrey Filatov.
"Agora os meus oponentes estão a tentar forçar-me a demitir, porque é a única chance deles," disse Ilyumzhinov. "Mas numa recente Reunião do Conselho Presidencial da FIDE em Atenas, eu não assinei coisa nenhuma e não assinarei voluntariamente e irei continuar a trabalhar como presidente da FIDE até às eleições em 2018."
Ilyumzhinov declarou também que as sanções impostas pelo governo Americano não afetam o seu trabalho como Presidente da FIDE, exceto de que ele não pôde estar presente no Campeonato do Mundo de 2016, em Nova Iorque.
Andrey Filatov e Kiran Ilyumzhinov, hoje em Moscovo. | Foto Federação Russa de Xadrez.
"Algumas pessoas no Conselho Presidencial querem este distúrbio interno para forçar a demissão de Ilyumzhinov's, porque esta é a única forma de o despojar da sua presidência," disse Filatov.
Ilyumzhinov: "Porquê gastar dinheiro na reunião extraordinária do Conselho Presidencial e jogar fora milhares de euros nesta, quando o Conselho não tem poder de decisão uma vez que o Presidente não assinou nada. É melhor gastar o dinheiro em torneios infantis."
Problemas Legais
O vai e volta entre o Presidente da FIDE e os outros membros do Conselho Presidencial sugere que uma luta pelo poder está a acontecer dentro da FIDE. No entanto, neste momento existem pelo menos três razões porque Ilyumzhinov não pode simplesmente ser afastado como Presidente da Federação Mundial de Xadrez.
1) Não existe assinatura.
Para começar, como ele próprio diz, Ilyumzhinov não assinou coisa nenhuma. Ele pode ter de facto dito "Eu demito-me," talvez até mais do que uma vez, e outros membros do Conselho Presidencial argumentam que estes comentários são vinculatórios e têm de ser aceites. Eles até deram ordens para o anunciar no website da FIDE. Mas pode isso de fato acontecer, sem uma assinatura? Não parece provável.
2) Remoção do cargo é difícil.
Ilyumzhinov não tem intenção de partir voluntariamente, e para remover um Presidente não é fácil. O Estatuto da FIDE declara:
Qualquer oficial eleito ou nomeado na FIDE pode ser removido da sua posição por causa. Causa é definido como sendo contrário ao espírito e texto dos estatutos e regulamentos do seu posto. A ação deve ter o acordo do Comité de Ética e requere dois terços dos votos do Conselho Executivo ou uma maioria na Assembleia Geral. (...)
3) O que se passa com a reunião extraordinária do Conselho Presidencial?
Então, o que se passa com a reunião extraordinária do Conselho Presidencial, agora marcada para 10 de Abril? Será mesmo possível para outros membros do conselho de convocar tal reunião? Segundo os Estatutos da FIDE, é o Presidente que convoca para tal reunião. O Capítulo 7 do Manual da FIDE declara:
O Conselho Presidencial deve reunir-se pelo menos uma vez cada três meses. Para além disso o Presidente da FIDE pode em qualquer altura convocar o Conselho Presidencial para consulta em pessoa ou através de teleconferência. [Itálicos por Chess.com.]
Crucial nestas deliberações pode ser a decisão em Dezembro de 2015 de Ilyumzhinov de se "retirar de quaisquer operações legais, financeiras e de negócios da FIDE," depois do Departamento do Tesouro dos EUA ter imposto sanções contra ele. Qual exatamente é o seu poder neste momento? Pode o Presidente Deputado Geórgicos Makropoulos convocar uma reunião extraordinária do Conselho Presidencial? Pode ele tomar outra decisões?
Não é improvável que tudo eventualmente será resolvido no Tribunal de Arbitragem para o Desporto (CAS) em Lausanne. Entretanto, os jogadores e os adeptos de xadrez só podem ter a esperança de que isto não leve ao cancelamento de quaisquer eventos de xadrez ou outros projetos correntes, e de que o nosso desporto não seja danificado adicionalmente.
Reportado anteriormente: