Carlsen no Milken Instituto: 'Eu Não Presumo Saber Muito de Forma Alguma'
O que é que o GM Magnus Carlsen tem em comum com Kareem Abdul-Jabbar? Na verdade, não muito (existem 3189 blocos e um rating de 2832 pontos entre um e outro).
Mas esta é a natureza da Conferência Global de 2017 do Milken Instituto, que teve lugar no início desta semana em Los Angeles, EUA.
Quem se reuniu para ouvir ambos a falar? Cerca de 3.500 "executivos em posições seniores" representando as áreas do desporto, política, negócios, e este ano, do xadrez. O tema desta edição da conferência de quatro dias, escolhida pelo grupo de pesquisa sem fins lucrativos do mesmo nome, foi de "Criar Vidas Com Significado."
Se uma "vida com significado" quer dizer perder para Carlsen ao xadrez pelo menos uma vez, várias pessoas satisfizeram o seu desejo no Conferência Global de 2017 do Milken Instituto.
Para além de Carlsen e do marcador mais prolífico de sempre da NBA, outros oradores notáveis incluíram o anterior vice-presidente dos EUA Joe Biden, o antigo presidente dos EUA George W. Bush, quatro secretários de gabinete dos EUA atuais, o diretor de filmes J.J. Abrams, e o músico Moby, para mencionar somente alguns.
O vice-presidente do Chess.com Danny Rensch também esteve presente, para -- o que havia de ser -- comentar.
O CEO do Chess.com Erik Allebest fez por lá uma paragem, servindo de árbitro para a simultânea de 10 tabuleiros feita por Carlsen.
Sim, Danny Rensch ainda consegue comentar vestido de fato. No entanto, ele não foi autorizado a beber do sua garrafão de água enquanto esteve no palco.
Antes do xadrez começar, Carlsen foi entrevistado em frente dos espectadores, e alguns demonstraram ter alguns conhecimentos de xadrez. Uma pergunta que veio da audiência: "Como é que eu consigo fazer com que o meu filho de 10 anos deixe de jogar o Stonewall?"
Aqui está uma amostra dos pensamentos de Carlsen. A maioria das perguntas do moderador focaram-se na sua preparação, na natureza desportiva do xadrez, e que outros talentos é que Carlsen confessa ter. Pelas sua parte, muitas das respostas do campeão do mundo foram precedidas por ele objectando e declarando que ele não tem outros grandes talentos para além do xadrez, mas que gosta de aprender coisas novas. A certa altura ele disse, "Eu não presumo saber muito de forma alguma."
- Sobre o génio:
"O tipo de talento que eu tinha em muito novo era de ser capaz de me concentrar numa coisa por mesmo muito tempo. O meu interesse não parecia diminuir...Essa tem sido a minha vantagem principal. Eu nunca fui a pessoa mais rápida a perceber uma coisa, mas a partir do momento em que me interessei num assunto eu nunca mais parei de aprender."
- Sobre a sua rotina diária:
"Eu gostaria de ser um bom exemplo. Quando falas de um atleta que se levanta às sete horas todos os dias, e depois tem duas sessões de treino...para mim, não é nada assim. [Carlsen levanta-se famosamente depois do meio-dia -- M.K.] Não haja dúvida que eu penso sobre xadrez o tempo todo. Eu treino xadrez todos os dias mas não é como se tivesse uma rotina. Para mim tem sido sempre baseado na inspiração. Felizmente que ela ainda não acabou...Por vezes eu jogo melhor quando não dormi muito, porque eu jogo com um pouco mais de criatividade."
Ele acrescentou que tenta dormir pelo menos oito horas e diminuir o consumo de açúcar para ter um "nível regular de açúcar no sangue quando eu jogo."
Supomos que não ouviste Carlsen falar em pessoa. Os ingressos para o evento custaram de 12.000 a 50.000 dólares.
- Sobre os outros regimes de saúde:
"Eu fiz yoga durante uns tempos. Eu nunca meditei muito. Em geral eu gosto de ser ativo e faço isso para me divertir. Isso ajuda-me a jogar xadrez. Eu penso que deveria fazer mais meditação porque as poucas vezes que fiz não sei se obtive maus resultados mas isso definitivamente que me ajudou a ter a mente mais clara."
- Sobre computadores:
Carlsen disse que prefere muito mais jogar com humanos. "O problema é que tens a impressão de estar a jogar com alguém estúpido quando estás a jogar o computador. Perder para alguém que tu sabes não compreender o jogo tão bem como tu, essa é uma sensação desagradável."
- Sobre como ele lida com a derrota:
"Não muito bem. Eu tento vencer a próxima. Sempre me disseram que se deve vencer ou perder com um sorriso, mas desde que me tornei profissional, que comecei a pensar que a melhor maneira de aprender a lidar com a derrota é não perder."
- Sobre a vida depois do xadrez:
"Ainda estou motivado. Ainda estou a aprender. Enquanto esse fôr o caso eu continuarei a jogar. Quem sabe quanto tempo isso irá durar?"
- Se extra-terrestres invadissem e ele tivesse uma única partida para salvar toda a humanidade e ele jogasse de Brancas:
"Nesse caso eu provavelmente jogaria uma abertura como 1. Nf3 ou a Inglesa. Eu não quereria apostar num batalha teórica. Provavelmente eu quereria manter muitas peças no tabuleiro e tentar ser eventualmente mais esperto do que ele. Para além do mais, se eu fizer alguns lances calmos no início, eu provavelmente fico a saber se os extra-terrestres são bons ao xadrez ou não."
- Sobre os seus rivais preferidos:
"Há um jogador Americano, Fabiano Caruana. É muito interessante jogar com ele. Primeiro que tudo, porque ele é tão forte. Mas também, porque não há besteira no jogo dele. Ele não quer saber se está a jogar contra mim ou qualquer outro. Ele aborda a partida com a sua estratégia e coloca sempre um grande desafio para mim. Há também outros como o jogador Armênio [Levon] Aronian, e o Indiano [Viswanathan] Anand."
Aqui está o vídeo completo. Se não te interessas pela sessão de perguntas e respostas, podes avançar para os 33:30 quando Rensch é apresentado e a simultânea começa.
O xadrez atualmente não foi uma tarefa fácil: 10 minutos por partida, sem incrementos. Carlsen teve tudo sobre controle, excepto ter-se esquecido duma coisa bem grande. Uma partida inteira!
Com todas as partidas completadas exceto uma de um lado da configuração linear, Carlsen viu a sua ala de dama por desenvolver e a falta completa de peças na segunda fileira. Ele erradamente pensou que o tabuleiro tinha sido configurado depois da partida ter concluído.
Mas não, ele não tinha simplesmente trazido peças para o lado esquerdo do tabuleiro. Consequentemente, ele não conseguiu fazer mais lances e perdeu a sua única partida por tempo.
Rensch deu-lhe uma oportunidade de se redimir mais tarde, pedindo a Carlsen para concluir a partida ainda assim. Primeiro, Rensch pediu a Carlsen para calcular quantos lances levaria para ele dar mate. Carlsen calculou que "seis ou sete," e de fato, deu mate em seis.
Aquele tipo de prognóstico parece ter impressionado os espectadores tanto como tê-lo visto a correr de mesa para mesa com as outras nove partidas.