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Perguntas dos Leitores, Queixas, e Conselhos

Perguntas dos Leitores, Queixas, e Conselhos

Silman
| 51 | Diversos

Eu costumava fazer muitas colunas de perguntas dos leitores, mas por alguma razão, não o faço há muito tempo. Porquê, eu não sei. No entanto, estou finalmente na disposição para discutir algumas das preocupações dos membros do Chess.com.

O HOMEM QUE NÃO SABE CONTAR

Sneakmasterflex escreveu (no meu artigo, Bate o Teu Oponente ao Recuar!):

“A maioria dos exercícios de SIlman são tão flagrantemente tirados de 'How to Reassess, 4th ed'. Este tipo tem zero originalidade quando se trata de artigos, como proprietário daquele livro eu podia ter facilmente postado os mesmos artigos que Silman e guardado o dinheiro."

JS: Havia só uma posição (Silman vs. Booth) do livro 'How to Reassess Your Chess, 4th edition' no artigo.

Normalmente eu ignoro simplesmente uma pessoa como Sneakmasterflex, mas neste caso a sua tirada lembrou-me de discutir um par de pontos muito importante. Em primeiro lugar, eu NA VERDADE uso uma partida ou duas do 'Reassess Your Chess' em muitos artigos, mas eu também uso partidas antigas, partidas novas, partidas por principiantes, partidas do século 17, etc. Se é instrutivo, eu uso-o e, em alguns casos, uso-o muitas vezes.

Porquê? Duas razões:

  • A maioria das pessoas no Chess.com não leram aquele livro, ou visto aquelas partidas, ou viram somente uma ou duas partidas mas esqueceram-nas (esquecendo ao mesmo tempo as lições que a partida ofereceu). Mas se eu vejo uma partida instrutiva, eu desejo que todos a vejam. E se eu tenho de usar uma partida várias vezes para assinalar um estratégia em particular, então eu faço-o.
  • Pessoas como Sneakmasterflex e muitas outras não parecem entender algo importante: REPETIÇÃO É TUDO (inúmeras repetições é a chave para qualquer atleta sério, músico, cientista, jogador de xadrez ou...bem, tu tens a ideia). Se eu vejo uma partida particularmente instrutiva, eu examino-a repetidamente ao longo dos anos (já olhei para algumas partidas mais de 100 vezes!). Dito simplesmente: quantas mais vezes eu olho para ela, mais eu aprecio a sua beleza e mais eu compreendo as lições que aqueles lances tentam ensinar-nos.

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OBCECADO POR COMPUTADORES DE XADREZ

Ronny8638 escreveu (a propósito das partidas no meu artigo, 'Bate o teu Oponente ao Recuar!):

"Todos esses exercícios falharam perante o Stockfish."

JS: Ronny, tu és suposto aprenderes o que o artigo está a tentar ensinar-te (neste caso, melhorar o posicionamento das tuas peças ao usar um lance de recuo). Em vez disso tu estás a olhar para um computador (que parece estar a um nível baixo...melhora essa pobre coisa!) e, consequentemente, sem aprender coisa nenhuma.

Primeiro que tudo, vamos pensar um pouquinho. Tu estás a dizer que Spassky, Karpov (duas vezes!), Nimzowitsch, Kramnik, e Nikolic (a jogar com Karjakin) estão todos errados. Realmente?

Mas, está bem! Por diversão, eu vou olhar para um programa de computador forte (Houdini 3) e ver se este pensa que eu sou um tolo (eu certifiquei-me de dar à máquina bastante tempo).
Hmm…em todos os casos menos um, o primeiro lance que eu ofereci foi a primeira escolha do computador (não deveria ser uma surpresa), e um foi a terceira escolha do computador (a escolha número-dois do computador fazia a mesma coisa, e a primeira escolha do computador não era exatamente humana.). Mais importante, todos os meus exemplos promoveram o tópico do meu artigo.

E é isso que eu tento fazer. Eu quero que aprendas várias ideias e padrões, e se um lance de computador se atravessa no caminho eu não me importo desde que o lance jogado seja lógico e promova o propósito do meu artigo. Agora, uma vez que passamos do primeiro lance (que é o mais importante para o meu artigo), os lances seguintes podem ou não ser o grande amor da vida do computador (eu não quero saber). Para mim, o que é importante é se os lances promovem o objetivo de modo a que possas na verdade aprender qualquer coisa, e em cada partida todos os lances fizeram exatamente isso.

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COM A BULLET NO CÉREBRO

Cabuby pediu-me para olhar para uma das suas partidas de bullet. Ele parece ser um fulano muito simpático, mas eu tive de dizer não. Na verdade, já outras pessoas me enviaram as suas partidas de bullet mas eu não lhes toco. A razão é que, na minha maneira de pensar, é mais sobre fazer a rapidez da tua mão do que o verdadeiro xadrez. Sim, é muito divertido, mas tu não aprenderás nada. É claro, nem tudo tem de ser sobre aprendizagem. Mas eu prefiro partilhar coisas com todos e eu duvido que as massas xadrezistas se iriam divertir muito a partir de 1.a4 (o princípio da partida de Cabuby. O pobre do Cabudy tentou jogar lances reais de xadrez enquanto o seu oponente, que joga sempre 1.a4, atirou simplesmente lances de modo, penso eu, a que ele pudesse vencer por tempo.). Eu recordo-me duma partida de bullet que eu joguei há muitos anos atrás... eu jogava de Pretas: 1.f3 e5 2.Rf2 d5 3.Re1 e depois disso eu desisti de jogar bullet.

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UM MACACO A CONTROLAR A TUA MENTE

Kuroowl escreveu:
“Será normal ter partidas que são boas (por exemplo tu controlas as casa, jogas posicionalmente, exploras os papéis no campo de batalha) e partidas que parecem como se estivesse um macaco a controlar a tua mente? Estou a perguntar porque eu tenho vindo a estudar xadrez (nunca esquecendo os fundamentos) através dum livro e dos teus artigos mas as minhas partidas continuam ser uma montanha russa do inferno."
JS: Todos (incluindo grande mestres) têm boas e más partidas, bons dias e maus dias. Eu lembro-me (há muito tempo atrás) de jogar num torneio grande em Nova Iorque e de dependurar peças por todo o lado. Eu estava completamente perdido da cabeça. De facto, eu posso ter tido o mesmo macaco a controlar a minha mente. Para o fim do torneio eu perguntei ao grande mestre Edmar Mednis se havia alguma cura para as asneiras sem fim. Ele disse, "Sim, o próximo torneio." 

Uma coisa semelhante aconteceu em San Francisco. Eu sofri através dois torneios horríveis. Depois eu venci o Aberto dos EUA. Nunca sabemos o que os deuses do xadrez (ou macacos do xadrez) irão dar, ou quando eles o irão tirar. 

Mas vamos discutir porque é que estás a ter tantas dificuldades. Simplesmente, haverão posições que tu compreendes (o que quer dizer que jogarás bem) e obterás outras posições que não compreenderás (e então que o macaco aparece). Infelizmente, depois de olhar para as tuas partidas é evidente que tu (e os teus oponentes!) precisam de ajuda em todas as áreas. Nada de que ter vergonha uma vez que todos passaram por isso (incluindo eu próprio). Muitos continuam a jogar pela excitação (o que está bem), mas alguns atualmente fazem um esforço deliberado para melhorar.

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MELHORAMENTO 1: Muitos jogadores criam um repertório de aberturas e não se afastam dele. Dessa maneira (ao longo do tempo) tu eventualmente começas a compreender a sua estrutura de peões, táticas típicas, situações onde um ataque é apropriado, e situações quando compreensão posicional é a coisa apropriada a fazer. Uma vez que estás bem familiarizado com tudo isso, vai para outro repertório que tem uma estrutura de peões diferente e necessidades diferentes. Existe um bom número de livros de aberturas que explicam intimamente essas aberturas em particular, e eles irão ser muito úteis.

MELHORAMENTO 2: Eu reparei que jogas xadrez de 10-minutos. Se gostas disso, continua a fazê-lo. Mas joga também algumas partidas de 30-minutos  ou mesmo partidas duma hora uma vez que essas partidas te darão o tempo para pensar profundamente e, consequentemente, podes ver o que dá ou não resultado no teu jogo. Toma nota do que pensas que fizeste bem ou de errado no papel ou num caderno digital, isola as tuas maiores fraquezas, e então, (se tens o dinheiro ou um treinador benevolente de xadrez) deixa que uma voz experiente te conduza a terra prometida.

Mr. Kuroowl, nos próximos meses se fizeste todas essas coisas e pensas que melhoraste, não hesites em me enviar uma par de partidas que mostram as tuas habilidades e as tuas fraquezas. Também, diz-me quais são essas fraquezas e pontos fortes (podes não os ter notado) e explica porque é que estás a ter problemas com esses defeitos de xadrez em particular. Quem sabe, eu posso escrever um artigo sobre a tua aventura xadrezista.

Boa sorte e diverte-te!


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