Os Meus Segredos Sobre o Magnus Carlsen
Primeiro gostaria de me apresentar: O meu nome é Kaja Snare. Eu sou uma jornalista de desportos da Noruega.
Quando o Chess.com me perguntou se eu não me importaria de escrever este artigo, eu disse que sim, porque 1. É fantástico partilhar convosco as minhas experiências seguindo o xadrez—e Magnus Carlsen em particular—e 2. porque me faz sentir como a Carrie Bradshaw do xadrez (o personagem principal é cronista no 'Sex and the City').
Foto Principal: No estúdio com Magnus durante o evento Norway Chess 2015 Qualifier.| Foto: Linnea Syversen.
Antes que leiam mais vocês merecem saber o seguinte: Eu não jogo xadrez (ao contrário de Carrie Bradshaw que pratica muito sexo).
Eu tenho um conjunto de xadrez, mas só porque é muito bonito e fica bem em cima da minha mesa da sala. E recentemente tornei-me membro de um clube de xadrez, mas principalmente porque me imagino sentada numa cadeira Chesterfield com um ar inteligente a jogar xadrez com pessoas interessantes que me contam as histórias das suas vidas (o livro "Chess or Life" de Atle Grønn faz-te imaginar estas coisas). Talvez te leve comigo ao mesmo tempo que tento melhorar no jogo.
Entrevistando Sergey Karjakin durante o campeonato do mundo de xadrez em Nova Yorque. | Foto: Maria Emelianova.
Mas este artigo vai permitir-te espreitar por detrás dos bastidores onde os mais brilhantes e famosos jogadores de xadrez estão escondidos. Nos passados três anos, eu tenho viajado pelo mundo fazendo cobertura do xadrez para a televisão Norueguesa, e tenho tido a oportunidade de conhecer as pessoas que fazem este desporto tão excitante. O cavalheiro e grande dançarino, Vladimir Kramnik. O patinho que se transformou em cisne, Sergey Karjakin. Aquele que não queria falar comigo, Hikaru Nakamura. Aquele que me envergonhou ao vivo na TV, Vassily Ivanchuk. O que fica acordado até mais tarde, Veselin Topalov. Fabiano Caruana, Maxime Vachier-Lagrave. E Magnus Carlsen.
Quais são os meus segredos sobre o campeão do mundo?
Terei de te levar de volta para a primeira vez que eu o conheci na 2014 Sinquefield Cup. Para ser mais exata isso não é verdade. Eu vi-o numa boate em Oslo algum tempo antes do seu primeiro confronto do campeonato do mundo. Ele já era uma celebridade suficientemente grande para ter uma área exclusiva na boate, e recordo-me de ele estar rodeado de garotas. Eu estava um pouco embriagada e deslumbrada por ver uma celebridade e fui a cambalear até onde ele estava pedir um autógrafo. Isso é que foi classe! Gostaria de acreditar que fui um pouco mais graciosa alguns anos mais tarde em St. Louis na Sinquefield Cup.
Eu nunca tinha trabalhado com xadrez e mal sabia como mexer as peças. Passei o meu tempo no vôo que saiu da Noruega a memorizar os campeões do mundo e A1, A2, A3 (ainda com dificuldade). O meu cinegrafista e eu ficamos na "casa do xadrez" juntos com todos os outros jornalistas de xadrez e eu preparei-me para ir ter duas semanas incómodas e enfadonhas.
Enganada!
Mike Klein ensinando-me a montar o tabuleiro (as damas têm sempre sapatos a condizer com os vestidos) em St. Louis.
Nós seguimos as partidas neste torneio historicamente forte (Caruana aniquilando com sete vitórias consecutivas! Será que vamos ver algo assim de novo?), trabalhámos, jogámos xadrez, e festejámos. Apaixonei-me loucamente com este desporto intenso, o jogo misterioso, e as pessoas originais e calorosas.
Foi desafiante entrevistar os jogadores de xadrez. Magnus em particular. É assim com ele: se chegas sem estar preparado e fazes perguntas estúpidas, ele não hesitará em te fazer sentir como um idiota. Se o surpreendes com perguntas boas e originais—e são mais do que bem-vindas mesmo que sejam da variedade de tablóide—ele oferece manchetes como mais ninguém, mesmo quando sabe que irão atrair atenção massiva, e não necessariamente positiva. Eu tenho principalmente a impressão de que ele detesta estar debaixo dos holofotes, mas o tipo de atenção que ele cria por ele próprio, com as suas próprias palavras ou lances de génio, parece diverti-lo.
Por vezes eu tenho a impressão de que ele está trazendo o jogo para a vida real. Ou será que ele está só a gozar connosco?
Durante essas duas semanas em St. Louis, eu tive a oportunidade de passar um bocado de tempo com Magnus fora do torneio. Nós levamo-lo a jogar golf no dia de repouso para filmar alguma boa metragem, e ele convidou-nos para jogar futebol. Jogámos num campo com uma pista de corrida em volta, e quando quase todos estávamos demasiado cansados até para caminhar, Magnus decidiu que queria testar a sua velocidade nos 100 metros. Quem me dera lembrar o tempo exato que ele fez, mas lembro-me de ficar bastante impressionada. Faz-me pensar em quem venceria um sprint de entre todos os campeões do mundo? Aposto que seria o Kramnik porque—fato engraçado—de acordo com a Wikipedia, ele tem exatamente a mesma altura que o Usain Bolt (195 centímetros). Ou talvez Bobby Fischer vencesse, porque pelo menos metaforicamente ele tinha muito de que fugir. Haha.
Jogando futebol com Magnus em St. Louis.
Bobby Fischer na verdade traz-me ao que quero dizer.
Enquanto crescia a minha única referência do xadrez era o génio Americano sobre quem eu tinha ouvido algumas histórias bastantes bizarras. Quando Magnus se tornou um grande mestre e os meios de comunicação começaram a falar nele, ele era frequentemente comparado com Bobby Fischer. Essa é a razão porque eu não censuro as pessoas por me fazerem a pergunta horrível, "mas tem algo de errado com Magnus Carlsen, verdade? Eles querem dizer socialmente. Lamento ter de dizer que esta é de longe a pergunta que me fazem com mais frequência.
No documentário Magnus, ele fala dos seus demónios. Estes fazem-no pensar em xadrez o...tempo...todo! Ele é o segundo campeão do mundo mais novo de sempre. Seria fácil de aceitar se ele tivesse sérios problemas sociais. Parece mais difícil de compreender que ele, tanto quanto posso ver, não os tem.
Eu não o conheço pessoalmente, mas Magnus Carlsen foi durante algum tempo a meu trabalho; Eu segui todos os seus movimentos, e eu diria isto: o indivíduo parece-me bastante esperto. Da mesma maneira que ele costuma estar um passo à frente dos seus competidores no tabuleiro, ele parece estar um passo em frente dos meios de comunicação.
Que ele na verdade está a brincar connosco. Tu conheces a sensação de te lembrar demasiado tarde que coisa esperta deverias ter dito? Aposto que isso nunca acontece ao Magnus. A sua cabeça calcula alguma coisa esperta ou sensacional para dizer tão rapidamente. Faz o meu trabalho ser muito divertido.
Como todas as pessoas, Magnus Carlsen tem os seus defeitos. A única coisa realmente anormal sobre ele em situações sociais é de ele deve ser talvez a única pessoa no mundo nascida depois de 1970 que não sabe dançar a Macarena. Eu sei isto porque depois da última ronda no 2014 Sinquefield Cup nós organizámos uma festa na casa do xadrez e todos os jogadores participaram.
Nós jogámos toda a variedade de xadrez divertido que possas imaginar, e eles foram tão amáveis e aplaudiram em voz alta quando eu fiz um lance que não perdesse imediatamente. Depois nós fomos todos para uma boate latina, e a certa altura a Macarena tocou e quase todos dançámos.
Esses foram bons momentos! Adoro o meu trabalho. Estou ansiosa por vos levar comigo de novo
Kaja Snare, tem 27 anos e vive em Oslo. Ela é uma jornalista desportiva para a NRK e tem vindo a cobrir o xadrez e fazendo programas televisivos sobre xadrez para a televisão Norueguesa nos últimos três anos. Ela trabalhou na transmissão internacional durante o campeonato do mundo em Nova Iorque. Kaja esteve nos jogos Olímpicos do Brasil fazendo a cobertura de handebol, e tem viajado para cobrir desportos de inverno, ciclismo, ténis e futebol. Quando ela está no seu país, Kaja trabalha como repórter desportiva na televisão.
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