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5 jogadores incríveis que merecem mais atenção do que recebem
Mostramos 5 jogadores incríveis que merecem mais atenção do que recebem!

5 jogadores incríveis que merecem mais atenção do que recebem

ColinStapczynski
| 88 | Diversos

(Nota do tradutor: o artigo original trata de jogadores que talvez você nunca tenha ouvido falar e ele inclui o GM Henrique Mecking, mais conhecido como Mequinho. Para a grande maioria dos brasileiros, ele não deveria estar numa lista de jogadores que quase ninguém conhece, por tudo que ele representa ao xadrez nacional e por estar na ativa nos dias de hoje. Porém, resolvemos mantê-lo na tradução como forma de reconhecimento à história dele e em consideração ao autor do artigo que, por incluí-lo nessa lista, está levando o nome de um dos maiores jogadores do Brasil aos quatro cantos do mundo.)

Existem muitos campeões mundiais conhecidos, desafiantes, candidatos, jogadores de elite, campeões nacionais e grandes mestres na história do xadrez. Os melhores jogadores que o nosso jogo já viu são constantemente celebrados e por boas razões! No entanto, existem muitos jogadores fantásticos, dos quais a maioria dos fãs de xadrez nunca ouviu falar, que merecem mais atenção do que recebem.

Alguns dos notáveis jogadores desta lista no foram considerados realmente "famosos" por diferentes razões, mas todos eles têm uma coisa em comum: deram grandes contribuições para o jogo real - com ideias teóricas que resistiram ao teste do tempo, com grandes partidas ou mesmo ambos.

Sem mais delongas, aqui estão cinco jogadores subestimados, mas incríveis:


Rudolf Charousek

Rudolf Charousek era um mestre húngaro e um dos dez melhores jogadores da década de 1890. Em 1893, ele participou de um torneio por correspondência e compartilhou primeiro lugar com Geza Maroczy. No mesmo ano, ele jogou uma partida incrível com um xeque-mate memorável. Você consegue encontrar o mate em três após 16...Cc6?

Charousek fez sua estreia internacional no torneio de Nuremberg em 1896. Foi neste torneio que ele derrotou o Campeão Mundial Emanuel Lasker - pelo que eu sei, ele é o único jogador na história a derrotar o campeão mundial usando o Gambito do Rei em uma partida de torneio:

Charousek empatou em primeiro lugar no torneio de Budapeste em 1896 ao lado de Mikhail Chigorin. No ano seguinte, ele venceu o torneio de Berlim, à frente de 19 mestres, incluindo três futuros desafiantes do campeonato mundial: David Janowsky, Carl Schlechter e Chigorin.

Depois destas grandes performances, Lasker afirmou: "Eu terei que jogar um match do Campeonato Mundial com este homem algum dia". Infelizmente, Charousek faleceu de tuberculose aos 26 anos e por isso ele nunca teve a chance de obter o título. Ele poderia ter se tornado campeão mundial se as circunstâncias fossem diferentes? Quem sabe...

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Rudolf Charousek. Foto: Wikimedia.

Gyula Breyer

No início do século 20, Gyula Breyer era um promissor mestre húngaro e jogador de elite. Depois de vencer o Campeonato Húngaro de 1912 à frente de Richard Reti e outros mestres, ele se tornou um dos pioneiros da escola hipermoderna do xadrez.

Após a Primeira Guerra Mundial, Breyer venceu o torneio de Berlim de 1920 à frente de Reti, Maroczy e dois futuros desafiantes do campeonato mundial, o GM Efim Bogoljubov e Siegbert Tarrasch. Aqui está uma maravilhosa partida de ataque jogada por Breyer neste torneio onde ele derrotou Maroczy com facilidade:

Em 1921, Breyer jogou 25 partidas às cegas simultaneamente, o que era um recorde mundial na época. Sua maior contribuição para a teoria do xadrez é, sem dúvida, a variante da Ruy Lopez que leva seu nome.

A variante Breyer da Ruy Lopez ainda hoje é jogada nos níveis mais altos. Ela foi usada por alguns dos maiores jogadores, incluindo vários campeões mundiais: os GMs Garry Kasparov, Magnus Carlsen, Viswanathan Anand e Vladimir Kramnik.

Talvez Breyer tivesse se tornado um nome "famoso" no xadrez se sua carreira tivesse continuado, mas ele (assim como Charousek) faleceu ainda jovem de um problema cardíaco.

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Gyula Breyer. Foto: Wikimedia.

Isaac Kashdan

O GM Isaac Kashdan foi um jogador de elite e o melhor jogador americano durante anos. Ele venceu o US Open duas vezes e jogou no primeiro tabuleiro das equipes americanas que venceram as Olimpíadas de Xadrez em 1931, 1933 e 1937. Jogando em cinco Olimpíadas, Kashdan ganhou um total de nove medalhas - este ainda é o recorde para um jogador americano.

Kashdan foi um virtuoso na cena internacional no início dos anos 1930: em 1930, ele ganhou o torneio internacional de Berlim, ficou em segundo lugar, atrás de Aaron Nimzowitsch, em Frankfurt, e ficou em primeiro lugar no torneio de Estocolmo e, em 1932,  empatou em primeiro lugar com o Campeão Mundial Alexander Alekhine na Cidade do México.

A carreira de Kashdan no xadrez foi afetada pelas dificuldades econômicas que caracterizaram a época da Grande Depressão e, portanto, ele teve que encontrar outros meios para sustentar sua família. Mesmo assim, ele continuou a jogar em alto nível e em 1948 ele jogou o que é considerada a sua partida imortal - em que conduz o ataque de forma brilhante com uma série de sacrifícios espetaculares, e termina com um mate sufocado impressionante:

Kashdan recebeu o título de Grande Mestre em 1954 (muitos anos após seu auge no esporte) e foi um popular escritor de xadrez. Em 1960, ele ganhou o título de Árbitro Internacional e supervisionou os dois torneios da Copa Piatigorsky. Mais tarde, ele foi um importante administrador da Federação de Xadrez dos Estados Unidos.

Como em muitos outros casos, a vida ficou entre Kashdan e o xadrez - primeiro com a Primeira Guerra Mundial, depois com a Grande Depressão e, finalmente, com a Segunda Guerra Mundial. No entanto, ele continuou a jogar em alto nível por muitos daqueles anos e hoje pode ser considerado sem dúvida um dos heróis mais subestimados da história do xadrez americano.

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Isaac Kashdan. Foto: Wikimedia.

Albin Planinc

O GM Albin Planinc foi bicampeão esloveno e um jogador de elite. Seu primeiro grande sucesso veio em 1969, quando ele ganhou o torneio de Ljubljana à frente de nove grandes mestres sendo um jogador não-titulado. Depois de ganhar o título de Grande Mestre em 1972, ele empatou em primeiro lugar ao lado do GM Tigran Petrosian no torneio IBM de Amsterdã em 1973, à frente de muitos grandes mestres, incluindo o GM Boris Spassky.

Em 1975, Planinc estava prestes a ficar entre os dez melhores jogadores do mundo quando jogou uma partida deslumbrante que será lembrada para sempre. Esta partida mostra a incrível imaginação e criatividade de Planinc - seu sacrifício de dama e caça ao rei tornam a partida uma verdadeira joia. Aqui estão as análises feitas pelo NM Sam Copeland:

Como a maioria dos jogadores desta lista, a história de Planinc não teve um final feliz. Seu jogo começou a declinar no final dos anos 70 e depois de lutar contra a depressão por muitos anos, ele passou as duas últimas décadas da sua vida em uma clínica psiquiátrica.

Ele partiu deste mundo aos 64 anos (o número de casas em um tabuleiro de xadrez, como você bem sabe) - a mesma idade em que faleceram dois gigantes do xadrez: GM Bobby Fischer e Wilhelm Steinitz.

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Albin Planinc. Foto: Dutch National Archives, CC.

Henrique Mecking

O GM Henrique Mecking foi o primeiro grande mestre do Brasil e candidato ao campeonato mundial. Ele alcançou o terceiro lugar no mundo em 1978, atrás apenas dos GMs Anatoly Karpov e Viktor Korchnoi.

Mecking conquistou seu primeiro campeonato brasileiro aos 13 anos e empatou em primeiro lugar no Campeonato Sul-Americano no ano seguinte. Aqui está um exemplo de uma partida brilhante de Mecking que exibe suas grandes habilidades táticas a partir de uma abertura relativamente tranquila. O sacrifício de qualidade com 16.Txd7! mantém o rei negro no centro, e o sacrifício da pseudo-dama 23.Dd4+ leva a um xeque-mate realmente artístico!

Em 1973, ele venceu o Interzonal de Petrópolis à frente de muitas lendas do xadrez, incluindo os GMs Efim Geller, Vasily Smyslov, David Bronstein, Samuel Reshevsky e outros. Mecking chegou às quartas de final do Torneio de Candidatos, onde foi derrotado por Korchnoi.

Temos aqui uma partida do seu match com Korchnoi no Candidatos de 1974. Mecking usa uma forte combinação de táticas e jogo posicional para ganhar um peão e vencer contra o poderoso Korchnoi.

Mecking também venceu o Interzonal de Manilla em 1976, à frente de uns dos melhores jogadores do mundo, incluindo Spassky. No Torneio de Candidatos, ele novamente chegou às quartas de final. Enquanto jogava o Interzonal de 1979, no Rio de Janeiro, ele ficou muito doente e foi forçado a desistir do torneio. Ele foi diagnosticado com um raro distúrbio neuromuscular do qual demorou muitos anos para se recuperar.

Mecking teve um retorno triunfante ao xadrez doze anos depois e continuou a competir em alto nível. Em 2009, ele empatou um match de quatro partidas com um dos melhores jogadores brasileiros, o GM Alexander Fier. Em 2011, ele ficou em terceiro lugar no campeonato brasileiro e, na lista de setembro de 2020, ele está com 2553 de rating.

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Henrique Mecking. Photo: Facebook.

Conclusão

Para mim, é um verdadeiro prazer estudar a trajetória de jogadores do passado, principalmente daqueles que alcançaram conquistas muito importantes, como é o caso dos incluídos nesta lista. Todos eles têm em comum a paixão pelo xadrez, ao qual dedicaram grande parte de suas vidas, apesar de terem que enfrentar inúmeras dificuldades. Espero que tenham gostado da análise desses quatro jogadores que, embora não sejam tão conhecidos quanto os outros, deixaram um legado igualmente impressionante. Destes jogadores de xadrez, qual é o seu favorito? Nos conte nos comentários abaixo!

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