Desencorajando a trapaça no xadrez escolar
Fiquei olhando para a minha lista de tarefas, pois estava desesperado para encontrar uma boa razão para pular uma delas. Algumas tarefas são tão desconfortáveis que queremos evitá-las. Eu tinha que fazer um telefonema simples para contar aos pais que o filho deles estava trapaceando em um torneio de xadrez.
Nos últimos quinze anos, eu tive duas dessas conversas, mas nas últimas seis semanas, eu tive seis! Toda semana, eu tenho que pegar o telefone e dizer a pelo menos um dos pais que o filho está envolvido em um incidente de trapaça. O que mais me impressionou foi que, geralmente, era um daqueles estudantes que eu realmente gostava. Eu nunca pensei que eles fariam uma coisa dessas.
- O temido telefonema
- Medidas anti-trapaça do Chess.com
- Observando os alunos trapaceando
- Paranoia com a trapaça
- Prevenção de trapaça
O temido telefonema
Tínhamos três jogadores que pensávamos estar trapaceando em nosso primeiro torneio online desde o COVID-19, e denunciamos os três ao Chess.com. Duas das três contas foram banidas nos dias seguintes.
Fiz uma ligação hesitante para a primeira mãe e expliquei que o Chess.com havia banido o nome de usuário desse aluno, o que significava que o jogador certamente estava trapaceando. A mãe ficou compreensivelmente em choque! Expliquei o por quê pensamos que o filho dela estava trapaceando e que isso foi confirmado quando o Chess.com baniu sua conta.
Era importante para mim que os pais soubessem que eu estava mostrando um fato, não uma opinião. Isso não era um julgamento errado, não era uma falha no sistema, essa era simplesmente a verdade. Na minha opinião, esse é o maior obstáculo para qualquer pai e acho que é natural. A menos que você esteja familiarizado com o processo, certamente você não estará pronto para acreditar que alguém em quem você confia está fazendo algo errado e se posicionar contra isso.
Era importante para mim que os pais soubessem que eu estava mostrando um fato, não uma opinião.
— GM Magesh Chandran Panchanathan
Essa mãe era simpática e compreensiva, ela estava agradecida por eu ter telefonado e trazido esse assunto para ela, e ela iria descobrir os fatos com o filho. Fiquei aliviado ao ouvir isso, pois essa não é a resposta mais comum dos pais. Ouvi tantos argumentos bizarros como "Meu filho é um gênio e faz matemática no ensino médio" ou "Meu filho estuda xadrez durante 26 horas por dia, então ele pode ter superpoderes!" A negação é uma coisa natural e, em certo sentido, uma parte necessária do processo de verificação dos fatos, mas às vezes vai longe demais.
Medidas anti-trapaça do Chess.com
Eu não estava ciente da maioria das coisas que aconteceram nos bastidores das medidas anti-trapaça do Chess.com. Mais de um ano atrás, o IM Daniel Rensch explicou primeiro alguns detalhes sobre problemas de trapaça e como o Chess.com lida com isso. Fiquei surpreso ao saber que até jogadores titulados e grandes mestres foram pegos trapaceando no Chess.com. Eu me perguntava como o Chess.com poderia ter tanta certeza de que um grande mestre havia trapaceado?
Eu não estava pronto para acreditar nisso imediatamente e demorei um pouco para finalmente confiar nesse processo. Este artigo dá um pouco mais de clareza: a equipe de fair play e detecção de trapaças do Chess.com é especialista e está investindo uma quantidade considerável de tempo e recursos na captura de pessoas que trapaceiam. Não é que eles sejam imunes a cometer erros; é que eles têm uma chance muito melhor de acertar.
Vivemos em uma época em que os fatos não podem ser separados da ficção e qualquer pessoa é especialista em tudo o que pode encontrar na Wikipedia. Em um momento como esse, é ainda mais importante enfatizar as ideias de "além da dúvida razoável" quando se trata de agir contra alguém.
Vivemos em uma época em que os fatos não podem ser separados da ficção e qualquer pessoa é especialista em tudo o que pode encontrar na Wikipedia.
Banir a conta de alguém no Chess.com não é o mesmo que condenar alguém por um crime, mas o processo ainda é o mesmo. Então, quando o Chess.com baniu dois jogadores e não baniu o terceiro jogador do nosso torneio, que eu tinha certeza de que estava trapaceando, sabia que eles não tinham as informações necessárias para agir. O Chess.com não conhecia meu aluno. Eles não sabiam seu rating no xadrez presencial ou o que ele podia ou não calcular durante uma partida - mas eu sabia de todas essas coisas!
Observando os alunos trapaceando
Observar um aluno quando ele está trapaceando é semelhante a encontrar táticos em uma posição de xadrez. Quando praticamos táticos suficientes, você tem a sensação de que algo está errado em uma posição, porque sua intuição lhe diz isso. Você não conclui imediatamente que existe um tático; você começa a procurar por um e começa a calcular para finalmente descobri-lo.
O mesmo acontece quando vejo um aluno me falando um lance durante a aula ou jogando um certo lance durante uma partida. Pode ser o tempo que ele levou, pode ser a postura, pode ser o pressentimento casual, pode ser qualquer uma dessas coisas, mas a intuição geral normalmente chega imediatamente. Quando um aluno está fazendo algo errado, você consegue sentir. Seu cérebro está acostumado a uma resposta e reação padrão e, quando você obtém uma resposta diferente, você notará!
Quando um aluno está fazendo algo errado, você consegue sentir.
Percebi que se o Chess.com baniu alguma conta, o jogador provavelmente trapaceou, mas se o Chess.com não baniu uma outra conta, isso não significava que o jogador estava limpo. Como eu entendi essa parte do processo, meu tom de trapaça mudou de cautela para certeza. Minha intuição combinada com os dados e análises do Chess.com me ajudou a chegar a um veredicto adequado.
Paranoia com a trapaça
Quando comecei a analisar os jogadores que eu pensava estar trapaceando, percebi que, se trapacear é um problema, a paranoia sobre as pessoas trapacearem também é. Em vez de procurar fatos sobre a trapaça, as pessoas começaram a procurar resultados anormais como uma diretriz para disparar o alarme de trapaça. Uma vez fui acusado de trapacear porque fiz um torneio muito ruim. A pessoa que me acusou foi tão minuciosa na coleta dos dados, que eles descobriram que eu nunca havia jogado um torneio tão ruim nos últimos dez anos!
Entendi isso como um elogio, porque a pessoa que me acusou claramente não achou que eu poderia jogar tão mal. A chave é encontrar um bom equilíbrio nesse processo, e estou convencido de que o Chess.com está fazendo sua devida diligência antes de bater o martelo. Dado que eu tinha tantas perguntas sobre esse processo, acho muito natural os pais questioná-lo completamente antes de aceitar. O problema, no entanto, é que os pais, às vezes, não seguem essa direção para obter mais informações. Em vez disso, eles apenas dão as desculpas com as teorias da inocência dos seus filhos.
Prevenção de trapaça
Encontrar métodos para pegar alguém que está trapaceando é ótimo, mas pode ser ainda melhor se pudermos impedir que eles trapaceiem. Como medida de precaução, comecei a transmitir a mensagem aos meus alunos e a todos os outros jogadores por aí de que há uma chance muito alta de você ser pego se trapacear. Esta mensagem não está tão clara; particularmente não está claro para os jovens estudantes que estão sentados sozinhos no quarto e jogando suas partidas de xadrez e de repente vêem a possibilidade de enganar o sistema, sem nenhuma consequência. Em um momento como esse, o medo pode ser um sentimento necessário para mantê-los no caminho certo.
Atualmente, acho que esses jogadores não têm medo, porque eles não entendem que o Chess.com ou seu treinador poderão pegá-los facilmente e com isso eles terão algum problema. Imagine que você entra na sala de aula para fazer uma prova, e não há fiscal e nem outros alunos. Você tem a prova em cima da mesa e ao lado dela está o livro com as respostas. Até onde você sabe, ninguém está observando você, mas você sabe que não deve usar o livro. O que você faria? Esse pode ser um bom estudo para um adulto, mas se colocarmos uma criança ou um jovem nesse mesmo teste, tenho certeza de que veríamos principalmente resultados desagradáveis.
Uma pós-doutorada da Universidade de Virgínia, Caroline Kelsey, conduziu um estudo sobre os efeitos nos seres humanos ao serem observados. Basicamente, eles colocam uma foto de um par de olhos na frente de uma caixa de doações no museu para crianças para ver se isso aumentaria as doações e adivinhem o que aconteceu! Gostaria de incentivar os leitores a verificarem mais detalhes sobre este estudo, mas o que estou tentando enfatizar é que uma combinação de medo e aceitação social pode nos manter em nosso melhor comportamento. Quando um aluno trapaceia, o problema é pontual, mas quando mais e mais estudantes começam a fazer isso, parece que o problema pode ser outra coisa.
Podemos estar criando um ambiente que naturalmente leva os jovens jogadores de xadrez a seguir o caminho imoral. Não há solução fácil para esses problemas. Meu sentimento é que, quando um jogador se senta na frente do computador para jogar uma partida de xadrez, quanto mais informados sobre esse processo de verificação, menor a probabilidade de trapacear. Além disso, se eles sentirem que estão sendo monitorados, e que haverá um custo social em relação às suas ações, eles se comportarão melhor.
Ou, você sempre pode seguir o exemplo dos pais indianos e quebrar as juntas deles uma vez, e eles nunca mais pensarão em fazer isso de novo! Esqueça essa ideia. Você pode acabar na cadeia se fizer isso. 😊