GM Vladimir Kramnik

Vladimir Kramnik é o único campeão mundial de xadrez nascido na década de 1970. Ele deteve o título da PCA (Associação Profissional de Xadrez) entre 2000 e 2006 e o ​​unificado de 2006 a 2007. Ele passou mais de duas décadas como um dos melhores jogadores de xadrez antes de se aposentar em janeiro de 2019, aos 43 anos.

• Início da carreira
• Campeão mundial clássico
• Campeão mundial unificado
• Carreira após o Campeonato Mundial
• Legado

Início da carreira

Vladimir Kramnik nasceu em Tuapse, na Rússia (então União Soviética), em 1975. Foi aluno da famosa escola de xadrez Mikhail Botvinnik e, em 1991, conquistou o Campeonato Mundial Júnior.

Ainda adolescente, Kramnik já era um jogador da elite mundial. Em 1993, aos 18 anos, ele participou do Torneio de Linares e ficou em quinto lugar de um total de 14 jogadores, incluindo Garry Kasparov, Anatoly Karpov e Viswanathan Anand. No Torneio de Linares seguinte, Kramnik derrotou Kasparov pela primeira vez, mas não pela última.

Sua ascensão meteórica o levou ao topo da lista de rating da FIDE em janeiro de 1996, colocando-o empatado em primeiro lugar. No entanto, ao longo da década de 1990, ele nunca jogou um match do Campeonato Mundial. Ele perdeu o Torneio de Candidatos de 1994, tanto da PCA quanto da FIDE, e caiu nas quartas de final do torneio eliminatório da FIDE em 1999.

No final dos anos 1990, Kramnik, Anand e Alexei Shirov eram considerados os três principais candidatos a conquistar a coroa de Kasparov. Depois de perder para Kasparov em 1995, Anand voltou ao formato organizado pela FIDE, enquanto Kramnik e Shirov disputaram um match em 1998, cujo vencedor ganharia o direito de enfrentar Kasparov. Embora Kramnik tenha perdido aquele duelo, as negociações entre Kasparov e Shirov não deram certo.

No final das contas, Kramnik não precisou vencer um torneio ou um match para poder enfrentar Kasparov pelo título mundial, já que neste caso, ao contrário do anterior, as negociações entre os dois jogadores se concretizaram. Além disso, Kramnik estava à frente de Shirov no ranking quando o match Kasparov-Kramnik começou no ano 2000.

Campeão mundial clássico

Embora Kramnik estivesse em sua melhor forma e tivesse se defendido várias vezes contra Kasparov, o Ogro de Baku era considerado o claro favorito para vencer o match. A essa altura, Kasparov havia recuperado o primeiro lugar no ranking mundial e estava à frente do segundo classificado por uma ampla margem. Mas Kramnik não se contentou em fazer uma aparição no match e acabou levando a melhor.

Kramnik foi o primeiro a marcar ponto, conseguindo uma vitória na segunda partida. O desafiante adotou uma abordagem bastante inovadora contra a esperada Defesa Grunfeld do campeão mundial nos lances 10 e 11, alcançando um final favorável no lance 26 e conquistando a vitória no lance 40.

Kramnik manteve a vantagem de um ponto até a 10ª partida. Kasparov deixou de utilizar a Grunfeld após a derrota sofrida na segunda partida, optando pela Nimzo-Índia neste décimo confronto. O resultado foi uma vitória avassaladora do aspirante ao título em apenas 25 lances, dando a ele uma vantagem de dois pontos, faltando apenas seis partidas para o fim do match.

Surpreendentemente, Kasparov não conseguiu romper as defesas de seu oponente em nenhum momento do match. Seguiram-se cinco empates consecutivos, após os quais o match foi decidido a favor de Kramnik, que se tornou o primeiro desafiante a permanecer invicto em um match do Campeonato Mundial desde José Raúl Capablanca em 1921.

Com as Negras, Kramnik empregou com sucesso a Defesa Berlinesa contra a Ruy Lopez, empatando nas partidas 1, 3, 9, 11 e 13. Kasparov jogou 1.c4 nas partidas 5 e 7 e 1.d4 na 15, mas isso também lhe trouxe o sucesso desejado e tão necessário.

Um ano depois, em 2001, Kramnik se tornaria o segundo jogador da história a atingir 2800 de rating. No entanto, o GM russo esteve perto de perder a coroa em seu match contra o húngaro Peter Leko, em 2004. No final, ele conseguiu manter o título graças a um empate no último momento, assim como Emanuel Lasker (1910), Botvinnik (1951) e Kasparov (1987) fizeram anos antes. A partir de então, nenhum campeão ficaria com a coroa caso o placar estivesse empatado ao final das partidas estipuladas, desde que foi introduzido o sistema de desempate. Como Lasker e Kasparov antes dele, Kramnik precisava de uma vitória na última partida para manter o título.

Após vencer a primeira partida de Negras, Kramnik perdeu as partidas 5 e 8 e precisava de pelo menos uma vitória nas últimas seis partidas. Cinco partidas depois, ele ainda não havia feito isso.

Na 14ª e última partida do match, Kramnik jogou a variante do avanço contra a Defesa Caro-Kann de Leko, desviando-se da linha principal que tentou na partida 12. No lance 33, o GM russo colocou suas duas peças restantes em posições ideais, com um cavalo em d6 e uma torre na sétima fileira. Ele então foi com seu rei para f6 para criar uma rede de mate e assim manter o título de campeão.

Campeão mundial unificado

Depois de seu match com Leko, Kramnik teve que defender sua coroa contra Veselin Topalov em 2006, em um encontro que aconteceu de forma bastante polêmica. Topalov era, na época, o campeão mundial da FIDE e o número um na lista de rating. Esse confronto, então, significou a reunificação do título após 13 anos de disputa.

O match foi dramático, polêmico e estranho. Kramnik começou bem, vencendo as duas primeiras partidas e empatando as duas seguintes.

No entanto, antes da partida 5, a equipe de Topalov acusou Kramnik de ir repetidamente ao banheiro. Com isso, foi decretado que ambos os jogadores utilizariam um banheiro comum ao invés de um privativo, contrariando assim o que estava firmado em contrato. Ao saber desta decisão, Kramnik recusou-se a disputar a 5ª partida, na qual também tinha a vantagem de jogar de Brancas. Após novas negociações e o retorno à regra de que os jogadores podiam usar seus banheiros privativos conforme estipulado no contrato, o Campeonato Mundial continuou, mas a 5ª partida foi considerada uma derrota de Kramnik por não comparecimento.

Depois de dois novos empates, Topalov somou duas vitórias e ficou um ponto na frente graças à polêmica vitória no jogo 5, que agora fez a diferença. Porém, Kramnik se recuperou rapidamente ao vencer o 10º duelo, no qual aproveitou a Abertura Catalã. Seguiram-se mais dois empates, o que significava que o match teria que ser decidido no desempate de partidas rápidas. Kramnik empatou a 13ª partida de Negras, e a partir daí as Brancas venceram em todas as partidas restantes. A vitória de Kramnik na 16ª partida foi decisiva e, portanto, a polêmica que antecedeu a partida 5 tornou-se apenas um episódio infeliz.

Apesar da conquista, Kramnik não seguraria o título por muito tempo, perdendo-o mesmo sem ser derrotado em um match. Em vez disso, o Campeonato Mundial de 2007 já estava planejado para ser um torneio round-robin duplo com oito jogadores, que obviamente contou com a presença de Kramnik.

Kramnik começou bem o evento, conquistando uma vitória na segunda rodada contra Alexander Morozevich e seis empates na primeira metade do torneio. No entanto, sua derrota na rodada 9 contra o mesmo jogador o colocaria na terceira posição, 1,5 ponto atrás do líder Anand. Apesar de ter superado seu antigo rival Leko na 12ª rodada e Levon Aronian na 14ª, Anand conquistou a vitória final por um ponto.

Felizmente para Kramnik, ele entrou no torneio sabendo que, se perdesse, ainda conseguiria um match com o vencedor.

Carreira após o Campeonato Mundial

No entanto, Kramnik também não superou Anand em 2008. Ele perdeu três das primeiras seis partidas, após as quais não teve chance de virar o placar, já que o formato do match era de apenas 12 partidas. Kramnik conseguiu uma vitória na décima partida, mas um empate no confronto seguinte encerrou a disputa.

Apesar desses dois contratempos nos Campeonatos Mundiais de 2007 e 2008, Kramnik recuperaria o primeiro lugar na lista de rating da FIDE em janeiro de 2008, mesmo que por um curto período de tempo. Mesmo assim, o campeão mundial permaneceu consistentemente entre os 10 primeiros do mundo ao longo da década seguinte, assim como havia feito na anterior.

Embora Kramnik tenha jogado até três Torneios de Candidatos nos últimos dez anos de sua carreira, ele nunca mais participaria de um match pelo título mundial. Em 2012, ele caiu contra Alexander Grischuk no desempate de partidas rápidas das semifinais de um torneio com oito jogadores, disputado por um sistema eliminatório. Já na edição de 2014, cujo formato foi um round-robin duplo, ele terminou empatado em terceiro lugar, 1,5 pontos atrás de Anand (que Magnus Carlsen havia destronado como campeão mundial no ano anterior).

2016 foi um ano um tanto decepcionante para Kramnik, que acabou não conseguindo se classificar para o Torneio de Candidatos. No entanto, ele recebeu o convite da organização para participar do evento em 2018, como sendo o número três do mundo. Embora seu quinto lugar não possa ser considerado totalmente satisfatório, ele deixou algumas dicas de sua mágica, como em sua aclamada vitória na terceira rodada sobre Aronian.

O Torneio de Candidatos de 2018 acabou sendo um dos últimos eventos que Kramnik jogaria. O 14º campeão mundial anunciou sua aposentadoria do xadrez clássico após o Tata Steel, em janeiro de 2019.

Legado

Não parece lógico julgar a carreira de um enxadrista levando em consideração apenas seu saldo individual contra um determinado jogador. No entanto, o desempenho de Kramnik contra o que é considerado por muitos como o maior enxadrista de todos os tempos, Kasparov, é verdadeiramente formidável. Ele não apenas destronou Kasparov como campeão mundial no ano 2000, mas também tem um resultado geral favorável contra ele em partidas clássicas. Além disso, Kramnik foi o único jogador, além de Kasparov, a ter se classificado como número um do mundo nos 20 anos de 1985 até a aposentadoria de Kasparov. O próprio Kasparov uma vez comparou o estilo de Kramnik ao de Karpov.

Num sentido mais amplo, Kramnik era um jogador que se sentia confortável em todas as aberturas e, portanto, em todas as posições. No entanto, o nome de Kramnik estará sempre associado à Defesa Berlinesa da Ruy Lopez, com a qual ele conseguiu neutralizar completamente o jogo de Kasparov com as Brancas no Campeonato Mundial de 2000. No entanto, Kramnik foi igualmente capaz de responder ao 1.e4 com a Siciliana ou a Petroff. De Brancas, Kramnik conseguiu ótimos resultados contra a Defesa Índia do Rei.

Qualquer campeão mundial deixa um grande legado na história do xadrez, mas o de Kramnik, em particular, que permaneceu entre a elite mundial por 25 anos, foi ainda mais notável.