IM belga é expulso de torneio após recusar inspeção corporal
O IM Stefan Docx foi expulso do Benidorm Open, na Espanha, depois de recusar uma inspeção corporal com detector de metais. O árbitro chefe do torneio está preparando um relatório para a Comissão de Fair Play da FIDE.
Docx, um mestre internacional de 48 anos da Bélgica e três vezes membro da equipe olímpica belga, estava jogando no torneio Benidorm Chess Open "A" (Supra 2000). Era um torneio suíço de nove rodadas, realizado de 3 a 12 de dezembro de 2022 em Benidorm, uma cidade costeira turística a cerca de 100 km ao sul de Valência, na Espanha.
Durante a oitava rodada, Docx se recusou a ser inspecionado com um detector de metais. O árbitro principal, Ramon Garcia, avisou-o duas vezes que seria expulso do torneio se continuasse a recusar, medida que segue as regras da FIDE. Quando Docx continuou não permitindo a inspeção, foi desclassificado e não foi emparceirado para a nona e última rodada.
Além de inspeções corporais aleatórias, as medidas anti trapaça no Benidorm Open incluíram revisão de partidas, inspeção obrigatória de agasalhos na entrada do salão de jogos e atenção especial dos árbitros aos jogadores que passavam muito tempo longe do tabuleiro. Dox nunca foi submetido a inspeção de agasalhos, pois não ia para o torneio com um.
O árbitro Garcia está preparando um relatório para a Comissão de Fair Play da FIDE, que sugere que o jogador é suspeito de trapacear.
Garcia contatou Kenneth Regan, um professor associado da State University of New York em Buffalo, que assessorou a FIDE por vários anos. Regan usa um modelo para fazer testes estatísticos para uso de computadores para trapacear no xadrez. Ele também deu uma olhada nas partidas de Docx anos atrás e não encontrou nada.
Regan compartilhou suas conclusões sobre o desempenho de Docx em Benidorm com o Chess.com, dizendo que ele "não teria sido capturado nas estatísticas no uso normal em vários torneios."
Regan observa que o rating performance intrínseco de Docx em Benidorm foi 85 pontos abaixo do seu rating, "ambos significando que seu jogo no geral estava abaixo da expectativa para um jogador com rating de 2450, e nas rodadas 1-4 ele jogou mais de 300 pontos abaixo da expectativa."
Regan também não conseguiu encontrar muito sobre o jogo de Docx em outros torneios: "Ele não joga torneios com partidas publicadas pela TWIC [This Week in Chess] ou Chessbase desde o final de 2019, e o histórico de aberturas desde 2017 não é claro."
No entanto, rumores sobre Docx circulam pela cena do xadrez holandês e belga há cerca de uma década. Já em 2012, um clube belga o denunciou por suposta trapaça. Um IM holandês comentou com o Chess.com sobre o incidente de Benidorm: "Obviamente todos já sabiam disso há 10 anos."
A questão é: estamos lidando com uma paranóia generalizada ou existem razões válidas para duvidar de Docx?
O GM Artur Kogan, que tem um grupo privado no Facebook dedicado à luta contra a trapaça no xadrez, postou triunfalmente sobre a desclassificação de Docx. O grande mestre israelense nascido na Ucrânia, que mora na Espanha, disse ao Chess.com que suspeitava de Docx há muito tempo, mas nunca encontrou evidências de trapaça.
"Ele era como um jogador normal de 2200-2300, 10 anos atrás. E então, nove anos atrás, houve alguns casos suspeitos. De repente, ele derrotou alguns grandes mestres fortes", disse Kogan.
Docx, que tinha visto este artigo antes da publicação quando o Chess.com pediu para comentar sobre o assunto, apenas se opôs à declaração de Kogan. "Eu me tornei MF quando tinha 17 anos, quando meu rating passou de 2300, e nunca caiu abaixo disso", apontou Docx em um e-mail. "Além disso, tive várias outras performances de norma de IM nos últimos anos, inclusive na Olimpíada deste ano em Chennai, que teve medidas rígidas contra trapaça."
Também é impreciso afirmar que Docx começou a derrotar grandes mestres fortes há uma década, ele fez isso ao longo de sua carreira. Por exemplo, o GM Friso Nijboer em 1993, o GM Evgenij Miroshnichenko em 2007 e o GM Ivan Sokolov em 2011.
Depois de olhar várias partidas de Docx, incluindo partidas online, Kogan, no entanto, denunciou o jogador belga à FIDE e à Associação de Profissionais de Xadrez (ACP) alguns anos atrás. Nenhuma ação foi tomada.
"Encontrei algum sistema; não há coincidência", afirma Kogan. “Mas ele estava enganando Regan por muitos anos; ele estava 'trapaceando com sabedoria'. Acho que ele usou engine apenas algumas vezes."
Somando-se à suspeita está o fato de que Docx parece ter levado seu telefone durante as partidas, sem estar desligado, várias vezes durante sua carreira. O GM belga Luc Winants, de 59 anos, listou três partidas em que Docx perdeu porque seu telefone fez barulho: Feygin-Docx, Campeonato Belga por Equipes em 2007, Docx-Rezasade, Oberliga Alemã em 2015 e Docx-Carmeille, Campeonato Belga por Equipes em 2016.
Alguns membros do grupo privado do Facebook tiraram suas conclusões, mas nenhuma das opções acima é evidência de que Docx teve assistência de computador durante as partidas. Sua recusa em obedecer à inspeção corporal em Benidorm foi suficiente para expulsá-lo, mas nem o árbitro do torneio nem o organizador forneceram uma declaração oficial sobre as suspeitas de trapaça. O relatório para a Comissão de Fair Play da FIDE pode lançar uma luz, embora não esteja claro se estará disponível publicamente.
O árbitro Garcia não tem certeza se a FIDE irá investigar o caso, porque um desentendimento entre a Federação Espanhola de Xadrez e a Federação Regional de Valência impede que o torneio de Benidorm seja válido para cálculo de rating FIDE. Os organizadores ainda estão tentando resolver esse problema.
Yuri Garrett, presidente da Comissão de Fair Play da FIDE, disse ao Chess.com que às vezes eles também dão uma olhada nos torneios que não valem rating. "Existem outras razões pelas quais a comissão pode ou não aceitar um caso, com base nas circunstâncias individuais do caso em questão."