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Bond, Xadrez Bond
Existe espionagem no xadrez?

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| 42 | Diversão e curiosidades

Realizadores de cinema adoram usar o xadrez nos seus filmes para sublinhar as capacidades intelectuais do protagonista.

Naturalmente é possível ver xadrez em muitos filmes de espionagem, uma vez que mesmo uma planilha normal parece ser um código secreto para aqueles que não jogam xadrez. Alegadamente, o xadrez por correspondência foi até banido nos EUA durante a Segunda Guerra Mundial por receio de que os postais com lances de xadrez pudessem de facto conter mensagens secretas.

Um das cenas de xadrez mais famosas de Hollywood teve lugar na segunda parcela da série de filmes de James Bond, From Russia With Love.

Podes ter reconhecido a famosa partida mostrada no ecrã, e que os peões das Brancas em d4 e c5 foram removidos para fazer a situação mais dramática:

E na vida real? Existem relatórios de alguns jogadores de xadrez famosos terem sido espiões. Tu podes até encontrar um livro na Amazon entitulado Paul Morphy: Confederate Spy (Paul Morphy: O Espião Confederado). Uma vez que não sou historiador amador, eu não posso dizer muito sobre o assunto.

Entretanto, ao longo da minha carreira xadrezista eu tenho visto e ouvido falar de muitos exemplos de tentativas parecidas com espionagem para obter informação sobre a preparação dum adversário. Algumas delas são bem conhecidas. Quando Max Euwe estava a viajar para Moscovo para participar no campeonato mundial de 1948, os seus cadernos de aberturas foram confiscados pela alfândega, por suspeita de que os estranhos símbolos como Lg5 pudessem ser algum código de espião oculto.

Um par de dias depois os cadernos foram exonerados e devolvidos ao proprietário. Terá sido apenas uma coincidência que o torneio tenha acabado por ser um dos piores na carreira xadrezista de Euwe e que em algumas das partidas ele tenha sido completamente esmagado na abertura?

Um dos métodos mais elaborados de obter informação sobre as aberturas dum adversário foi empregado durante o infame confronto do campeonato mundial de 1984. As casas de apostas estavam a oferecer probabilidades para tudo relacionado com o confronto: resultados, o número de lances, aberturas, etc. Aqui está o que Garry Kasparov diz no seu livro sobre o confronto:

Como mais tarde se veio a saber, da 1ª para a 11ª partida um dos meus ajudantes, Iossif Dorfman, apostou secretamente no totalizador do confronto, e antes da 7ª partida ele apostou que a resposta para 1 d4 seria uma Defesa Tarrasch, mas o totalizador era operado por um homem que estava próximo do campo de Karpov.

Hoje em dia, numa época quando a equipe de Fabiano Caruana mostrou ao mundo inteiro o conteúdo do computador do pretendente, é até difícil de imaginar o nível dos jogos de espionagem em grandes confrontos nas décadas de 1970 e 1980.

Durante o match de 1972 Spassky-Fischer, as cadeiras de ambos os jogadores foram radiografadas de modo a detetar dispositivos eletrónicos que pudessem ali estar escondidos. O medo de escutas era tão avassalador que quando Anatoly Karpov discutia com os seus segundos as aberturas que ele iria jogar no dia seguinte, ele usava apenas nomes de código. Uma vez foi decidido jogar um "cinzeiro," e no logo no dia seguinte uma mega-novidade do GM Zaitsev foi empregada:

Uma vez que o objetivo era de reunir tanta informação sobre o oponente quanto possível, nenhum pequeno pormenor foi ignorado. Durante as Olimpíades de Xadrez de 1974, Viktor Korchnoi comprou um livro de aberturas sobre a Siciliana Dragão. Este facto foi notado pelo treinador da equipe Soviética, o GM Keller, e foi imediatamente comunicado ao oponente de Korchnoi no vindouro confronto final dos Candidatos, Karpov. Karpov não desperdiçou tempo e preparou uma poderosa novidade na variante que se esperava que Korchnoi fosse jogar. A partida pode ser encontrada num livro de partidas selecionadas de Karpov.

Não se tratou sempre de aberturas. Quando Bronstein estava a jogar o seu confronto do campeonato mundial vs. Botvinnik em 1951, um misterioso tenor praticava as suas árias no quarto de hotel ao lado do oponente. Por alguma estranha razão ele preferia fazê-lo todas as manhãs por volta das 6:00. Bronstein queixou-se disso ao seu amigo íntimo Boris Weinstein, que tinha alguns amigos poderosos.

Em breve, o trabalho de construção começou ao lado da residência de Botvinnik. A maquinaria pesada começava o trabalho todas as manhãs às 6:00. Uma reunião foi convocada onde os representantes de ambas as equipes discutiram a situação. Imediatamente na manhã seguinte o misterioso tenor assim como a maquinaria pesada desapareceram completamente.

Hoje em dia nós temos grande mestres de 12 anos e quem sabe, talvez o próximo campeão mundial será um garoto de 15 anos. Portanto as crianças precisam de aprender os jogos de espionagem tão cedo quanto possível. Essa é a razão porque a federação Russa de Xadrez decidiu ocultar as partidas jogadas no último campeonato nacional de juniores. Como explicou o principal treinador da equipe nacional Russa: "Porquê dar aos nosso adversários estrangeiros informação sobre os nossos jogadores?"

É claro, quase imediatamente as partidas tornaram-se disponíveis no mercado negro, mas essa é uma história completamente diferente.


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